Por Bruna Gonçalves Selau - Colégio de Aplicação da UFSC, Florianópolis - SC
No mês de julho de 2016, fui presenteada pelo Goethe-Institut, através da iniciativa "Escolas: parceiras para o futuro" (PASCH), com uma viagem para a Alemanha, onde eu passaria em torno de 20 dias estudando alemão com pessoas dos mais diversos países. Hoje, fui encarregada de falar sobre aqueles que julgo serem os melhores 20 dias da minha vida. Essa, apesar de o que possa parecer, não é uma tarefa fácil. Quero falar de todos os detalhes, mas não posso. Então, prometo que tentarei – tentarei – ser sucinta e objetiva.
Tudo começou há alguns meses, quando descobri – poucos dias antes do prazo final de entrega – que estavam abertas as inscrições para a bolsa – bolsa essa que morava em meus sonhos desde a primeira vez que ouvi falar dela, em 2012. Descobri o que precisaria ser feito para concorrer à bolsa, organizei os documentos e produzi o que foi pedido – tudo isso em um tempo curtíssimo para a pessoa enrolada que sou.
Apesar de alguns problemas, consegui enviar minha inscrição no prazo. Depois disso, não pensei mais na bolsa, já que não me considerava suficientemente qualificada para tal oportunidade. Vivi minha vida normalmente por um tempo, até que recebi a notícia mais feliz do ano: eu havia ganhado a bolsa para Frankfurt.
Passado algum tempo, chegou o dia! Sinceramente, não acho que já estive tão nervosa e ansiosa quanto estava no dia 9 de julho de 2016. Por um lado, estava deixando meus pais. Por outro, estava partindo para a minha primeira aventura além-mar! Deixei o aeroporto de minha cidade, Florianópolis, sem acreditar no que estava por vir, parecia que “a ficha não tinha caído”.
Chegando no albergue – que, penso eu, era só o nome do local, pois a qualidade era incrível –, fomos direto almoçar. Gostei bastante do almoço nesse dia, principalmente porque eu estava morrendo de fome! Nesse primeiro almoço, já começamos a conversar entre nós, e nesse dia eu conheci muitas pessoas, mas realmente não me lembro muito bem do que conversamos, acho que porque estava muito cansada. Lembro-me, no entanto, que foi muito estranho conversar com pessoas de tantos países diferentes, e em uma língua que nem era a minha! Em todos os outros almoços, qualquer um que nos olhasse poderia achar que nos conhecíamos há anos, mas esse primeiro foi um pouco estranho.
Nesse primeiro dia, logo depois do almoço, fui ao meu quarto, que estava louca para conhecer! Cheguei lá e não vi ninguém, tampouco vi nomes na porta. Me senti um pouco solitária, mas decidi esquecer e fui fazer minhas coisas. Apenas mais tarde, na hora de dormir, é que cheguei a conhecer minhas colegas de quarto. Posso dizer, com certeza, que logo no início já adorei todas. Junto comigo, estavam no quarto 222 três meninas: uma do México, uma da Rússia e uma do Cazaquistão!
Lembro que a primeira semana passou até um pouco devagar, não estava acostumada com as pessoas e a rotina. Além disso, sentia falta de meus pais e amigos. Mas não pense que foi ruim! Pelo contrário, até gostei de não ter passado tão rápido, pois assim pude aproveitar todos os dias – que, aliás, eram longuíssimos, tinha sol até as 21h00min, acredita?
Para começar, os monitores fizeram diversos jogos conosco, com o propósito de nos aproximar. Nos divertimos muito nesses jogos, e posso dizer que foi o maior número de atividade física que eu já fiz nas férias! Amei muito todos eles, apesar de que, no começo de cada um, eu nunca ficava muito animada. Achava que iam ser jogos bobinhos, mas foram superdivertidos!
Logo nos primeiros dias, fizemos também um passeio às margens do Main, passando por suas diversas pontes. O rio é lindo, e tirei muitas fotos que vou guardar para sempre. Achei muito interessante também ver os costumes dos locais – e cheguei a sonhar em fazer caminhadas por lá, imaginando minha vida em Frankfurt.
Todas as noites, lá pelas 22:00, nós nos reuníamos para descobrir o cronograma do dia seguinte. Nesse ponto do dia, já estávamos acabados, mas sempre achávamos energia para mais uma atividade: cantar nossa música a plenos pulmões! O nome da música é “Wir sind groß”, do cantor Mark Foster. No começo, não sabíamos muito bem a letra, mas com o tempo todos gravamos cada palavra – e, eu tenho certeza, essas palavras ficaram marcadas nos corações de cada um de nós. Falo apenas por mim, mas acho que meus colegas compartilham de minha opinião, quando digo que foi uma escolha maravilhosa de música, que me fez pensar em diversos aspectos da minha própria vida, bem como em todos que lá estavam. Hoje, ouvindo essa mesma música, me vem um sentimento de saudades, assim como uma alegria imensurável, pois acabo lembrando de todos os amigos que fiz ao longo da jornada.
Como nem tudo são flores, e fomos para lá com um propósito, finalmente chegaram as aulas! Posso dizer que, ainda que elas não fossem a coisa mais empolgante de lá, foram as melhores aulas que já tive! Adorei a sintonia da turma, além das dinâmicas e da maneira que aprendíamos. Acredito que aprendi muito durante esse período, e me comunicar apenas em alemão foi uma grande conquista para mim.
No fim de cada semana, íamos a uma cidade diferente. Na primeira semana fomos a Marburg e na segunda, a Mainz. Ambas cidades eram incríveis e lindíssimas, cheias de história. Eu achei maravilhoso o fato de os monitores e professores, além de cuidarem de nós durante a semana inteira, ainda nos levarem em passeios magníficos aos sábados, mesmo sabendo que eles teriam ainda mais trabalho.
Tivemos, ao longo das três semanas, três festas. Nelas, dançamos, rimos, comemos, dançamos mais, etc. Me surpreendi com a quantidade de pessoas de outros países que conhecem a música “Aí se eu te pego”, do Michel Teló. Todos sabiam cantar e dançar a música, e até pediram para que colocassem ela nas festas.
A segunda semana, no entanto, passou rápido demais… Depois de 7 dias juntos, todos já se sentiam como uma família, e já estávamos tristes por ter que ir embora, mesmo que ainda houvesse duas semanas. Mas ainda havia muito o que viver, então focamos nisso e a semana foi incrível!
No início da semana, tivemos a noite dos países. Essa constituía-se em cada país fazer uma pequena apresentação, mostrando sua cultura. Nós do Brasil resolvemos fazer uma pequena apresentação com um cartaz, além de alimentar nossos colegas com doces típicos daqui! No fim, conseguimos até fazer com que todos dançassem forró! Todos os países, no entanto, trouxeram coisas muito divertidas e interativas, como jogos e danças diversas, além de muita comida!
Nos domingos, sempre acabávamos ficando mais livres, e fazíamos atividades muito legais. Eu, por exemplo, fui em um parque aquático, onde tive a oportunidade de fazer um salto de 10 metros!
Depois dessa maravilhosa segunda semana, fomos levados à terceira e última semana. Nesse ponto, você já pode imaginar muitas lágrimas ao fim de cada dia, pois nenhum de nós, sem exceção, tinha a mínima vontade de ir embora. Tudo era tão bom, e as pessoas tão incríveis, que nosso maior pedido era poder ficar lá para sempre – ou, pelo menos, poder voltar depois de algum tempo!
Além das atividades normais, durante todo o tempo que estivemos lá pudemos visitar o centro da cidade algumas vezes. Eu amei cada ida ao centro, e pude ver mais da linda cidade em que fiquei hospedada.
Depois de três maravilhosas semanas, havia chegado a hora da despedida. Lá pelas 4 e meia da manhã do último dia, o primeiro grupo deixou o albergue. Foi quando eu realmente percebi que havia acabado. Já comecei a chorar naquele momento e o resto do dia foi todo regado a lágrimas. Lembro-me que duas das minhas três colegas de quarto saíram no mesmo horário, e depois disso comecei a me sentir desidratava de tanto que havia chorado. Dizer que o dia foi melancólico é o eufemismo do século. Como os brasileiros foram os últimos a ir embora, tive que assistir todos os meus novos amigos partindo – sabendo que nunca mais veria a maioria deles. Foi incrivelmente triste, mas isso só me mostrou o quão feliz foram as três semanas e o quão sortuda eu fui. Conheci tanta gente, fiz tantas coisas… Depois de tudo isso, vejo a vida de maneira muito diferente. Cresci como pessoa nesses 20 dias, e levarei as memórias dessas férias para toda a vida.
Hoje, analisando minha vida antes e depois dessa maravilhosa viagem, vejo que sou outra pessoa, que a experiência de entrar em contato com um país como a Alemanha, além de pessoas dos mais diversos países, me fez aprender muito sobre mim mesma. Não me canso de falar o quão maravilhosas as pessoas eram, e o quanto eu gostaria de revê-las. Criamos laços de amizade verdadeiros, e tenho certeza que vou lembrar de cada um de meus novos amigos para sempre. Com eles, aprendi a ter esperança no mundo outra vez. Vendo pessoas de países em guerra, que já viram tanta coisa ruim, manterem o sorriso no rosto é, sem dúvida alguma, inspirador. Posso dizer, com certeza, que me inspiro nessas pessoas ao fazer escolhas hoje em dia. Com os monitores e professores, aprendi a dar valor para as pessoas ao meu redor. Presenciar pessoas que, durante suas férias, se dão completamente para cuidar de 70 adolescentes, e fazem isso com alegria, realmente me ensinou a importância de dar valor aos que fazem isso por mim todos os dias. E ver o quanto o país se importa com a educação, tanto que oferece inúmeras bolsas, dentre elas a que eu ganhei, é realmente inspirador. Retornei ao Brasil com uma renovada esperança na humanidade e a certeza de que, um dia, eu voltarei.